Você será desligado

O botão on / off como conhecemos surgiu em meados de 1973, através da Comissão Internacional de Eletrotécnica, que se inspirou na condição binária de 1, presente, e 0, ausente. Primariamente, havia sido criado para colocar aparelhos em modo stand-by, ou modo de espera, mas acabou sendo posteriormente empregado para funções de liga / desliga.

O símbolo também representa uma interrupção, através da barra, uma pausa, a quebra de um ciclo.

Na última sexta, soube através da coordenadora do curso de arquitetura, onde leciono aulas em três disciplinas por três semestres, que eu seria desligado neste fim de ano.

Desligado, neste caso, é um termo leve para “despedir”, visto que este último carrega em si o peso da semelhança em “mandar alguém para a rua”, o desemprego e toda a carga negativa que a palavra pode trazer.

Despedir me parece ser o antônimo de pedir, quem não pede. Des-pedir. Ou seja, o pedido antes feito pelo meu tempo e dedicação não são mais necessários, por isso me despedem. Fa sentido. As disciplinas que eu costumava lecionar não serão mais ofertadas nos próximos semestres. Não precisam mais me pedir para ensinar. É, então, uma despedida.

Bem, acontece que por trás de uma boa história há sempre um tempero de coincidência.

Em agosto de 2019 eu me lembro de estar sob um silêncio absurdamente confortante na biblioteca da FIMCA, observando o crachá verde que estampava o título de professor abaixo do meu nome, um sonho que se concretizava desde a conclusão da minha graduação, em 2009. Dez anos depois eu me desafiava a entrar em uma sala de aula e conduzir algumas turmas em direção ao conhecimento. Um projeto de uma nobreza ímpar e, na minha opinião, uma das maiores contribuições que uma pessoa pode ter na vida de outra.

Mas, ainda sim, um projeto. E um projeto, segundo a definição do Instituto de Gerenciamento de Projetos (Project Management Institute – PMI), é uma atividade com escopo exclusivo e início e fim bem definidos. Como tudo nesta vida, um projeto tem validade e, há algum tempo, eu percebia que a validade deste projeto se aproximava do fim.

Nada relacionado ao deixar de gostar do que fazia, longe disto. Acontece que, de agosto de 2019 para cá, muita coisa mudou na minha vida. Alguns novos interesses profissionais, algumas novas oportunidades surgiram. Começar novos projetos com alguns outros já em andamento seria arriscar – e muito – a qualidade dos projetos os quais eu já estava envolvido. Neste caso, o desligamento das aulas veio a calhar, já que eu precisava de um recurso bastante escasso ultimamente: tempo.

Neste caminho, percebi meu interesse em ensinar. É um hábito que tenho de tentar explicar tudo que sei, com riqueza de detalhes. Mais do que ensinar, eu gosto muito de falar sobre. Contar. Contar sobre conteúdo, contar histórias. O tal do storytelling que, infelizmente, não é bem representado pela tradução de contar histórias no português. 

Com a FIMCA eu paro, por ora, por aqui. Com o ensino universitário também. Mas sobre ensinar, eu estou apenas começando. Estou trabalhando em um projeto (com início e fim bem definidos, sendo o fim definido para o primeiro semestre de 2021) que envolve algumas paixões compiladas.

E sobre o storytelling, vou continuar contando, e espero que cada vez melhor. O tempo dedicado às aulas será parcialmente dedicado a isso, investindo cada vez mais no que é essencialmente importante para mim. 

O tempo que nos resta é cada vez mais minúsculo, e isso é um imenso desafio para nos tornarmos cada vez mais seletivos em relação ao que escolhemos fazer em nossas vidas. Essencialidade, então, é algo que peço para mim mesmo em 2021. E, sem dúvidas, não tenho a menor intenção de me des-pedir isso.

Terei sempre uma enorme satisfação em ter lecionado no Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA nestes três semestres. À instituição, coordenação e aos alunos com quem tive a oportunidade, muito obrigado!