O Trump que habita em mim…

…saúda o Trump que pode habitar em você. O que pude aprender com essa história toda.

As minhas idas ao trabalho levam cerca de 20 minutos de carro, nos quais eu costumo ir rezando em voz alta, fazendo uma reflexão do dia anterior e ensaiando o que me espera nas próximas 17 horas acordado. Ultimamente, decidi dar uma trégua aos pedidos, me condicionando a apenas agradecer tudo aquilo que me acontece, e tentar tirar uma lição ou outra, quase que em um processo de melhoria contínua.

Hoje, no meio do caminho, me veio uma frase muito usada por autores de minimalismo, atribuída a Yka Oliver, que diz que “a gratidão transforma o que temos em suficiente”. Eu acredito bastante nisso. Quando estamos satisfeitos com o que vêm nos acontecendo, parece que entramos em um estado de espírito de flow, e aceitamos tudo o que a vida nos trás, entendemos, lidamos com isso, e tudo segue sem muitas turbulências. A vida parece dar certo, mesmo quando alguns contratempos aparecem. Os cães ladram e a caravana passa.

“A gratidão transforma o que temos em suficiente” – Yka Oliver

Por outro lado, se decidirmos perceber e comentar cada balanço que os rebolos no caminho nos causam, a jornada parece levar mais tempo, e pode ser que que fiquemos até nauseados.

O ponto aqui não é uma estrada melhor ou pior pavimentada, mas de aceitar que o caminho pode ser assim, por um tempo. Um brinde ao estado temporário e o prazo de validade de tudo nesta vida.

Ultimamente eu venho sendo muito resistente ao que tem me acontecido. Não há nada de grave, como um problema sem solução, mas um certo descontentamento sobre como as coisas se desenvolvem, e como outras coisas não querem se desenvolver. Com muitas demandas atuais, o desafio é marcar as caixinhas em branco da minha lista to-do (como disse neste artigo), e abrir espaço para o novo.

Temporal esperado à qualquer hora

Já passei da fase de encontrar culpados, e agora tomo para mim todas as responsabilidades. Inclusive, este entendimento veio em uma dessas idas ao trabalho (somado à muitas horas de terapia). Fazendo uma lista mental de tudo aquilo que me incomodava, percebi que, em algum momento da vida, eu havia dito um sim bastante claro e intencional à cada uma delas. Agora, parte do meu dia dedica-se a fazer o possível para dizer tchau a todas.

Existe um limiar muito tênue entre não gostar de uma consequência e não aceitar que ela esteja acontecendo a você. A primeira é uma condição binária de tudo aquilo que nos ocorre e que, algumas vezes, até se modifica, quando a gente passa a entender melhor ou tirar proveitos disto. A segunda não vai adiantar muita coisa, talvez prolongar um sofrimento ou postergar nossa ação em realizar algo para que mude aquela condição, ou mesmo aceitar e passar a viver com aquilo.

Quando percebi isso hoje no caminho para o trabalho, me vi como Trump com o dedo indicador apontado para cima que, diante dos resultados das eleições, não esperava (eu acho) que isso fosse acontecer e, em um gesto de autodefesa recusa-se a aceitar que não será mais presidente dos EUA. No caso dele, não há muito o que se fazer para reverter o resultado da eleição mais votada da história dos Estados Unidos.

Bem… ele com seus desafios para lá, eu com os meus aqui. Talvez a gratidão pelos meus abacaxis tornem os que tenho em suficientes, certo Yka Oliver?!