O encontro

Depois de quatro ou mais meses sem que tivesse um sonho digno de ser lembrado na manhã seguinte, na noite que se passou eu sonhei algo que devo aqui registrar, como forma de encapsular um sentimento para que, de tempos em tempos, eu possa vir experimentá-lo novamente.

Eu estava em um local muito amplo, coberto por um grande telhado aparente de telhas alaranjadas bastante alto, que permitia que o vento se renovasse ao redor, pois não havia muitas paredes em seus  lados. Há alguns metros, ao redor deste lugar, havia uma área verde, ensolarada, com um jardim que nos convidava a um passeio entre as árvores e arbustos.

A narrativa se inicia já na cena principal. Uma pessoa, da qual não me recordo quem, cuidadosamente entregou em meus braços um bebê. Imediatamente olhei e o reconheci: Leonardo. Os poucos e ralos cabelos de sua cabeça apontavam para a testa, e estavam molhados, como quando acaba de nascer. Mas tudo isso não era o parto. Não havia centro cirúrgico, equipe médica ou qualquer infraestrutra que me remetesse a isso. Leonardo estava vestido, seco, agasalhado. O momento não era de um nascimento físico. Era algo espiritual. Era a entrega da guarda, da responsabilidade, do cuidado que agora passava a ser meu, parte da minha vida.

Havia três ou quatro observadores mais afastados, que conversavam entre si, e eu estava distante demais para ouvir qualquer coisa que dissessem, mas que, de alguma forma, eu percebia o que era:

– Olha lá. Esse é o momento do encontro. Eles estão se conhecendo. 

Em mim, uma sensação semelhante a de que alguém havia me dito em que, em determinada parte desse filme, eu atuaria ao lado de uma outra pessoa e que, finalmente, éramos apresentados. Como se eu o conhecesse por nome, por fama ou por algum outro motivo. Naquele exato momento, nós éramos apresentados, e estabelecia-se uma conexão instantânea.

Foi o exato momento em que acordei, e percebi que já estava sorrindo antes disto. Mantive o sorriso no rosto, pois estava tomado por uma alegria inédita, uma sensação de alívio, de tranquilidade divina. 

Algo me dizia no momento em que acordei que aquilo era um presente de Deus para mim. Não em sentido figurado, mas algo que Ele havia me entregue, em resposta a todos os anseios e receios que lido ultimamente. Algo pontual que me serviu para aliviar o sofrimento da espera, da falta de fé, da dúvida e que, como você deve imaginar, surte efeito até agora.

Um daqueles momentos que vale a pena guardar, para se lembrar de que a vida não é tão racional. E que a poesia da vida pode estar nas entrelinhas, se assim decidirmos perceber.