O princípio da escassez seletiva

“Escassez é o problema econômico fundamental de se ter desejos humanos praticamente infinitos em um mundo de recursos limitados.”

Sempre haverá tênis bonitos

Eu sempre ficava em dúvida entre dois ou mais pares de tênis, sempre que meus pais me levavam às compras. Havia o mais confortável deles, o mais bonito, o da moda, o que todos os meus amigos tinham, entre outros. Dificilmente eu conseguia achar todos estes requisitos para se comprar um tênis em um só par. A simples atividade de ir às compras me deixava tão em dúvida que minha mãe acabava decidindo por mim.

Mas, mãe, esse é tão mais bonito, eu contra argumentava.

Sempre haverá tênis bonito, Matheus. Quando estiver na hora de trocar, este “mais bonito” já não será o mais bonito, dizia, a voz da razão e dona do dinheiro.

O que eu não sabia era que ali, mesmo intuitivamente, minha mãe me dava as primeiras aulas sobre minimalismo.

O princípio da escassez

Ter somente um par de tênis novo me fazia gostar muito e somente daquele. Se eu tivesse comprado mais de um par eu não gostaria tanto de um deles quanto eu gostava somente do que eu havia comprado.

Os tênis antigos que eu tinha, involuntariamente, perdiam quase todos seus valores. Pelas regras da minha casa era, então, hora de doá-los.

Mas, por que, então, eu sentia tanta vontade de comprar outros tênis? O princípio da escassez na economia cria em nós uma sensação de que devemos comprar antes que acabe. Mas sempre haverá tênis bonitos. O que é que acabaria, então? A moda, a tendência, a fase de se usar tais tênis ou quaisquer outros objetos que, por ventura, nos sejam ofertados.

Esta é uma técnica de marketing que pode ser extrapolada para diversos outros campos de nossas vidas – inclusive a de relacionamentos, que diz respeito a garantir a sua parte antes que seja tarde demais.

A ideia do minimalismo é exatamente o oposto a isto. Ele se baseia no princípio de ter somente aquilo que lhe traz valor. O minimalismo, como estilo de vida, nos faz repensar no que consumimos de maneira inconsciente, irracional. Nos tira da urgência criada pelo princípio da escassez. No documentário The Minimalist, Joshua Fields e Ryan Nicodemus definem bem: “não há nada errado sobre consumismo. O problema é o consumismo por impulso”. Por sua vez, Dale Carnegie, autor do best seller Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, disse que “sucesso é conseguir tudo o que você quer. Felicidade é querer o que você ganha”.

O princípio da escassez seletiva

Todos nós, nas mais profundas lembranças, fizemos, em algum momento, coro ao refrão “foi preciso perder pra aprender a valorizar”. Infelizmente eu tenho que concordar com este pagode dos anos 90. Muitas vezes, não temos consciência do quanto gostamos de alguma coisa ou de uma determinada pessoa, e só passamos a dar valor no momento em que a perdemos.

Mas e se nós tivéssemos aquilo que nos faria falta? Dariamos mais valor ao todo. Teríamos consciência disto. Entendeu a ideia?

Existe uma definição que diz que “sucesso é ter somente aquilo que você precisa”. Na arquitetura e no design, o minimalismo é muito bem definido por Massimo Vingelli, designer norte-americano, que diz que “o minimalismo não é um estilo. É uma atitude, um jeito de ser. É uma reação fundamental contra o barulho, o barulho visual, a desordem, vulgaridade. Minimalismo é a busca pela essência das coisas, não a aparência”.

Diversos criadores definem que seus trabalhos não são um amontoado de coisas. Na verdade, a ideia sempre esteve lá, eles apenas às esculpiram. O processo criativo seria, então, a retirada daquilo que não importa, e não o agrupamento de estilos, informações, tendências e etc.

Portanto, por mais que já tenhamos passado do Natal deste ano, época em que a vontade de consumir aumenta substancialmente, ainda há tempo de repensar parte dos seus hábitos para 2019. E, em períodos de crise econômica, podemos citar Mies van der Rohe, que disse: o menos é mais.