Isolamento social-digital

Era terça-feira de carnaval e eu ensaiava meus últimos acessos aos feeds do Instagram e Facebook. Enquanto alguns prometiam os 40 dias de quaresma sem carne, bebidas ou qualquer outra coisa de ingerir, eu decidia abrir mão das únicas duas redes sociais que eu usava com frequência. Seria uma boa desculpa – disfarçada de oportunidade – para mais um experimento, já que flerto com a ideia de um sumiço digital por algum tempo, como se sobrassem ainda alguns resquícios da época da opção de aparecer off-line do MSN Messenger.

Talvez não houvesse um timing mais certo do que esse. Mal sabia ali a transformação da quaresma em quarentena, e da verdadeira necessidade de ficar off-line.

A ideia era afastar minha atenção da trivialidade instagramável, dos selfies de academia, dos vídeos dos relógios e painéis de carro, dos testes de “quanto você me conhece?”, “sextous” e afins. E também seria uma dieta dos biscoitos que tento ganhar com algumas fotos que publico.

Afinal, tem uma frase de um livro que li ano passado que martela na minha cabeça quase todo dia. Algo como “quase tudo nessa vida soa como um ruído para nós. Mas o que sobra tem o potencial de nos preencher por inteiro”. E eu, nessa busca por mais clareza mental e por uma vida com mais significado, comprei a ideia. Afinal, com todo esse ruído, fica difícil se ouvir a melodia da nossa vida.

Nos primeiros dias da quarentena, alguns dias depois do afastamento das redes sociais, me senti tentado a saber como tudo estava acontecendo com meus amigos. Conversei com vários amigos espalhados pelo Brasil e mundo. Mas percebi que, em muitas dessas conversas, havia muito mais esforço da minha parte por manter as conversas, então fui deixando a peteca cair. Hoje em dia meu WhatsApp é um silêncio útil só, apesar dos grupos que eu quase nunca vejo, por se tornarem uma extensão das correntes de e-mail que costumávamos receber antigamente.

O silêncio digital, quem diria, tem sido um aliado nestes dias mais difíceis. Tenho feito mais e com mais intenção, sem o anseio de dividir com o todo mundo o que estou fazendo (o que de certa maneira se contradiz como este texto – e todo este blog).

O que me faz voltar a ideia inicial deste texto: até quando vai minha quarentena digital? Hoje, não sinto a menor falta das redes sociais, exceto por alguns breves momentos em que penso que alguém possa estar querendo falar comigo por lá, o que não é muito bem o propósito principal destas redes. E, se importante fosse, ligariam para mim. Afinal, quem de nós está realmente ocupado?