Em nome da arte

“Originalidade é um plágio não detectado” – William Ralph Inge

Estou diante de uma curiosa pilha de livros. Na base, está o “Originais – Como os inconformistas mudam o mundo”, do Adam Grant. No topo, “Comece pelo porquê”, do Simon Sinek, que é a leitura da vez. E no meio, como num recheio de um sanduíche perfeitamente equilibrado, está o “Roube como um artista”, do Austin Kleon.

Sempre tive interesse em saber como e sob qual contexto algo foi criado, e acabei estendendo isto para minha vida. Livros sobre criatividade, processos criativos e originalidade sempre povoaram minhas estantes, e o “Roube como um artista” é um must have sobre o poder que as influências exercem sobre nossa criatividade. Entender por que fazemos o que fazemos me levou a comprar o livro homônimo do Cortella e criar um hábito que, de início, me parecia um exercício de empatia, mas que depois de um tempo tornou-se algo a ser evitado. Isso porque querer entender o porquê de determinada pessoa ter feito, falado, agido, etc. com você ou outra pessoa, entender o contexto de tudo, pode soar como uma tentativa de controle, típico de pessoa ansiosas como eu.

Mas, na verdade, a ideia central aqui é outra.

No começo do ano passado eu passei a oferecer meus serviços de fotógrafo amador. É incongruente pensar em um “trabalho amador”, porque se é trabalho, é profissional. Mas o “amador” aqui concorda com o sujeito desta oração, que reconhece que seu conhecimento precisa ser aprimorado para chegar em um nível mais profissional um dia., em uma espiral do conhecimento. Enfim, modéstia para lá, passei a fotografar para alguns arquitetos e, tempos depois, para restaurantes.

Surge aí a Mídia Milímetro, que tem no nome o tamanho de sua pretensão. A unidade de medida milímetro é comum para o mundo da fotografia, como identificação do tamanho dos filmes e lentes, quanto para a arquitetura, propósito inicial de público alvo. No entanto, o nome flerta com a questão dos detalhes em que a fotografia pode trazer e, pela sonoridade (também pelas iniciais deste nome combinarem com as minhas), o nome está mantido.

No primeiro ano do projeto fotografamos, Dayana e eu, mais de 50 restaurantes locais e alguns bons metros quadrados de ambientes internos e externos de edificações, em construção ou não. Alguns retratos aqui ou ali, a fotografia comercial vem sendo um combustível para o reinvestimento em outros equipamentos fotográficos. O pretexto sempre foi esse.

Além disto, é muito legal ter um hobby que propicie você a conhecer outras pessoas, de uma área totalmente fora da sua formação. São soluções para problemas distintos, formas de se pensar desconectadas dos seus princípios. Eu vinha fazendo a lição de casa que o “Roube como um artista” pediu.

Mas, de uns tempos para cá, eu venho sendo mais seletivo com quem eu me disponho a atender. Tirando alguns clientes que, já não sei mais se gosto de fotografar pelas fotos que faço ou pelo apreço que tenho aos que criam os pratos ou cômodos, os outros não me interessam tanto. Isso porque nunca quis ser um fotógrafo profissional, apesar de estudar sobre isso quase todo dia. O que me interessa transpõe a imagem feita, eu quero saber da história, da essência do que está em cena. O que me faz não querer parar é a vontade de me manter envolvido com esses outros projetos e, de alguma forma, poder contribuir com eles.

Não temos no português um termo que se aproxime de storyteller, já que “contador de história” nos remete a alguém que lê para pessoas, e não quem faz a narrativa. E esse é o termo exato que procuro, porque começo a entender que a fotografia para mim não é o produto final, mas uma ferramenta para transmitir uma mensagem. Por mais poético-démodé-abstrato que isso possa parecer, é essa a essência da ideia.

E isso tudo se tempera com o cenário de ver “minha” linguagem fotográfica ser usada pela concorrência por aqui. A isso cabe um novo texto, mas nunca me dei muito bem com a ideia de “inspirar” alguém a fazer um trabalho tão-parecido-assim com o meu, ao ponto de querer saber, de forma indireta, dos ganhos financeiros que tenho tido, como se isso, afinal, fosse o que me motivasse.

Aqui bifurca-se a Mídia Milímetro, entre a paixão da visão fotográfica e a defesa do seu estilo de linguagem frente aos seus concorrentes. A vida nunca me fez competitivo ao ponto de encarar concorrentes como rivais. Eu sequer queria ter concorrentes, não por um “monopólio”, mas para não ter alguém que olhasse para mim como alguém a superar, ou que usasse minhas ideias, para o mercado ou não. Cada um com suas histórias a contar, com seu jeito de conta-las, contanto que se conte, e que não contem por mim.