Fazer por fazer

O (im)paciente na sala de espera

Estou há mais de uma hora em uma sala de espera de um consultório odontológico, e o fio do meu aparelho, temporariamente deslocado, me incomoda menos do que essa espera. Para ser justo, esta é uma consulta de encaixe, e cavalo dado não se olha os dentes. Será? Mesmo sendo uma consulta paga, como qualquer outra, e em um horário pré-definido pelo consultório?

A questão da espera não é somente por esperar em si. Minha noiva está há alguns quilômetros daqui, com nosso bebê recém-nascido, lidando com um estado que os pediatras batizaram carinhosamente de ciclo vulcânico. Enquanto meu filho entrava em erupção, eu refletia quantas coisas eu estaria fazendo se não estivesse ali.

Preço versus valor

A paternidade, ou qualquer outro projeto significativo em sua vida, provavelmente o fará questionar sobre o valor da sua hora frente a tudo o que você faz. Não estou falando do preço, mas de algo mais profundo, da importância que você e os outros dão – ou deveriam dar – ao seu tempo, uma das poucas coisas nesta vida que não se recupera. Não encontrei nenhuma definição que superasse a do investidor famoso Warren Buffett: preço é o que você paga, valor é o que você leva.

Com a chegada do Léo, eu passei a pensar mais sobre o bom uso do meu tempo, algo que o livro Essencialismo, do Greg Mckeown, já me advertira meses atrás. Muitas coisas que eu me dispunha a fazer antes do nascimento dele não fazem mais sentido agora. E, para entender isso, eu simplesmente comecei a pensar no que teria o potencial para me tirar das funções paternas que eu tenho. Quase nada.

É fato que nem tudo fazemos porque queremos. Algumas coisas que precisamos fazer pelas possibilidades que aquilo nos traz, como dinheiro, por exemplo. Só que algumas coisas são dispensáveis. Não me trazem retorno (financeiro ou emocional, por exemplo), e tem um preço muito alto para o valor entregue. Como em uma boa vasculhada no guarda-roupa, eu comecei a separar algumas coisas na minha rotina das quais eu não precisaria mais.

Além daquilo que me cabe, como a família, que é a coisa mais importante, e o emprego, que é quem financia as coisas que faço, sobram as coisas que eu faço por fazer.

Fazer por fazer

Fazer por fazer é aquilo que você faz simplesmente porque fazer é bom. Não te trará um resultado, você não quer alcançar nada além realizando aquilo. Como a felicidade, por Clóvis de Barros Filho. 

Minha sogra faz amigurumis, uma técnica de crochê para criação de pequenos bonecos. No começo, ajudamos ela a criar uma conta no Instagram e impulsionar suas criações, buscando monetizar o talento dela. Logo em seguida, a ideia foi abortada. Ela não queria tornar o seu hobby em uma profissão. Ela faz por fazer. Aceita algumas poucas encomendas, mas sempre intercalando com o puro prazer de sentar e transformar novelos de linhas em coisas que ela quer fazer. É a máxima do caminho ser mais importante do que o destino.

O amigurumi está para a sogra assim como a fotografia está para mim. Eu não sou um fotógrafo profissional, mas gosto fazer trabalhos de fotografia. Transformar o que eu vejo em uma imagem me parece uma boa forma de mostrar meu ponto de vista. E me relacionar com empreendedores, hype à parte, é me envolver com profissionais que estão contando uma história que eu gosto de ouvir e que gostaria de ajudar a dizer. Além disto, antes de fotografar ou escrever neste blog, eu sempre fui um storyteller (porque contador de história, em português, acaba tendo outro sentido). E contar sobre o que e como eu vejo é a coisa que eu mais gosto de fazer.

O preço da minha hora como “fotógrafo” (haja aspas) é menor do eu ganho no meu trabalho. Pergunte-me agora sobre os valores.